domingo, 4 de abril de 2010

O Hino do Piauí


  • O Hino do Piauí tem letra do poeta Antônio Francisco da Costa e Silva e música de Firmina Sobreira Cardoso e Leopoldo Damascena Ferreira, foi adotado pela Lei 1078 de 18 de julho de 1923. O hino foi composto por ocasião das comemorações do centenário da Independência do Brasil, que no Piauí ocorreu após os cem anos de sua adesão à proclamação feita por D. Pedro I.
A poesia de Da Costa e Silva tem como objetivo cantar o orgulho e a alegria do povo piauiense por sua terra, além de exaltar seus feitos históricos, dando ênfase a bravura dos colonizadores nos embates e nas lutas pela colonização, o que atualmente tem feito do hino alvo de criticas de alguns intelectuais. O poema do Hino do Piauí apresenta cinco estrofes de quatro versos e uma estrofe de dez versos. A estrofe de dez versos é considerada a mais popular de todas e se intercala entre as estrofes de quatro versos funcionando como o estribilho.

A música (unidade estrutural rítmico-melódica) que compõem o hino obedece uma forma padrão tradicional deste tipo de composição (modelo de inspiração italiana).

LETRA DO HINO DO PIAUÍ

Salve! terra que aos céus arrebatas
Nossas almas nos dons que possuis:
A esperança nos verdes das matas,
A saudade nas serras azuis.

  • Piauí, terra querida,
    Filha do sol do equador,
    Pertencem-te a nossa vida,
    Nosso sonho, nosso amor!
    As águas do Parnaíba,
    Rio abaixo, rio arriba,
    Espalhem pelo sertão
    E levem pelas quebradas,
    Pelas várzeas e chapadas,
    Teu canto de exaltação!

Desbravando-te os campos distantes
Na missão do trabalho e da paz,
A aventura de dois bandeirantes
A semente da Pátria nos traz.

  • Piauí, terra querida,

Sob o céu de imortal claridade,
Nosso sangue vertemos por ti,
Vendo a Pátria pedir liberdade,
O primeiro que luta é o Piauí.

  • Piauí, terra querida,

Possas tu, no trabalho fecundo
E com fé, fazer sempre melhor,
Para que, no concerto do mundo,
O Brasil seja ainda maior.

  • Piauí, terra querida,

Possas Tu, conservando a pureza
Do teu povo leal, progredir,
Envolvendo na mesma grandeza
O passado, o presente e o porvir.

  • Piauí, terra querida,

ESTROFE CONTESTADA

É consenso entre historiadores atuais que a 3ª estrofe do hino do Piauí faz mensão poética a dois bandeirantes de forma a apologiar as violências cometidas por eles contra os povos nativos no respectivo período histórico. As discussões sugerem a troca da estrofe em questão e que a Assembléia Legislativa autorize a realização de um concurso para essa finalidade ou que seja reintroduzida a antiga estrofe.

  • A respeito cita-se Adrião José Neto: “Na estrofe ‘Desbravando-te os campos distantes/Na missão do trabalho e da paz/A aventura de dois bandeirantes/A semente da pátria nos traz’, o autor ao exaltar os dois bandeirantes (Domingos Jorge Velho e Domingos Afonso Mafrense), fala em ‘aventura’ e ‘na missão do trabalho e da paz’ sem, contudo, atentar para o detalhe de que aventura é coisa de aventureiro, e que o trabalho ou um dos trabalhos dos bandeirantes era guerrear contra os índios para lhes tomar terras e aprisionar os sobreviventes para o trabalho escravo. A paz propalada pelo poeta constitui-se apenas tão somente numa rima. Nessa missão rotulada pelo poeta como do ‘trabalho e da paz’, eles, os dois bandeirantes e muitos outros aventureiros promoveram a guerra. Como comandantes das expedições paramilitares, patrocinaram grandes carnificinas, matando, esfolando e exterminado nações inteiras, dando péssimo exemplo aos seus seguidores [Elites latifundiárias], que não sossegaram enquanto não eliminaram o ultimo índio de solo piauiense”. (José Neto, Adrião. A incoerência histórica do hino do Piauí e verdades estabelecidas. Teresina; Ed. do autor, 2006).
  • Outra se fundamenta assim, pelo pesquisador piauiense Roberto Alencar: "O Hino do Piauí contém um dos mais graves erros históricos cometido pelo poeta Da Costa e Silva, considerado o maior poeta piauiense. Isso, se considerarmos o processo de revisão pelo qual passou a História Oficial, hoje intitulada de Nova História. Leia-se a estrofe em que esse erro é cometido: “Desbravando-te os campos distantes/ Na missão do trabalho e da paz/ A aventura de dois bandeirantes/ A semente da pátria nos traz".

Os dois bandeirantes citados em tal estrofe são Domingos Jorge Velho e Domingos Afonso Mafrense. Estes personagens históricos tiveram uma missão totalmente oposta à de promover o trabalho e a paz. São considerados pelos novos historiadores como os principais exterminadores dos povos indígenas das terras brasileiras. O massacre realizado por eles foi tão cruel que terminou por exterminar, por exemplo, todos os índios do Piauí. Pode-se dizer que os dois foram fixados nas páginas da História do Brasil para sempre, mas como assassinos frios, cruéis e “sangrinolentos”. Domingos Jorge Velho, também, foi o paulista contratado para destruir o Quilombo de Palmares em 1694, localizado em Alagoas: a página mais triste da História do Brasil.

  • Diz-se, então, que eles promoveram a guerra e não a paz, como está escrito no Hino do Piauí. É essa, pois, a história que deve ser ensinada nas escolas, e não a que é ensinada no Hino piauiense. Enquanto essa estrofe não for retirada do Hino, será motivo de vergonha, de deboche e gozação nas salas de aulas. Nem mesmo uma criança da quarta série infantil vai cair nessa história escrita por Da Costa e Silva, poeta que sempre esteve a serviço de uma literatura que escamoteava a realidade e se propunha em favor de uma ideologia dominante de opressão e discriminação".

Primeiros Registros Musicais Piauienses


  • Escassos são os registros hoje existentes sobre a secular história da música brasileira em terras piauienses, assim como imprecisas são as poucas referências de que se dispõem sobre a evolução da arte musical em nossos primeiros tempos de colonização portuguesa.

A literatura sobre a história da música brasileira nos mostra que desde os tempos da colônia o som vibrante dos tambores afro-brasileiros ecoa por aqui, em terreiros de fazendas, pelas ruas das vilas ou nos adros de igrejas, com seu poder de arrancar os homens à dispersão forçada em que vivem.

Noticiados por cronistas e viajantes a partir do século XVI, as festas e rituais dos africanos são quase sempre objeto de descrições levianas e preconceituosas. Sons “monótonos”, danças “lascivas”, ritos “bárbaros” eram alguns dos qualificativos utilizados por estes escritores e moralistas, sem dúvida um tanto assustados com as multidões de negros que essas festas mobilizavam – multidões que sempre podiam rebelar-se contra a minoria branca.

  • Paradoxalmente, a festa negra também constituía uma atraente opção de lazer para muitos brancos proprietários de escravos, como acontecia nas fazendas e engenhos isolados.

O mais antigo registro de que se tem a respeito da música na provincia do Piauí, é da primeira metade do século XVIII. Trata-se do registro de uma forma de repressão aos primeiros artistas populares que utilizavam se da música de origem africana como forma de expressão para entreterem-se em manifestações festivas.

  • F. A. PEREIRA COSTA

F. A. Pereira Costa em seu trabalho "Cronologia" (pg. 108), editado em 1740, informa que em virtude de bando, ficava a população por ordem do então governador do Maranhão, João D'abreu Castelo Branco, que nenhum escravo, quer da Guiné, quer indígina, assim como crioulos, mamelucos, mulatos e cafusos, poderia conduzir armas proibidas, cacetes e violas, sob pena de três dias de prisão e cinquenta açoites diários.

Durante o século XIX o Piauí recebeu a visita de diferentes e ilustres viajantes estrangeiros que deixaram suas impressões sobra a terra e a gente piauiense nas obras que publicaram.

  • HENRY KOSTER (Travels in Brazil, 1816)

Henry Koster, escritor de origem inglesa nascido em 1793 e falecido em 1820 em Recife-Pe. Veio para o Brasil em 1809 onde tornou-se senhor de engenho e ficou conhecido com o nome abrasileirado de Henrique Costa. Viajou pelo interior dos estados nordestino passando pelo Piauí e deixando sua passagem registrada no Livro "Travels in Brazil" publicado em 1816 na Inglaterra e mais tarde nos Estados Unidos e ainda com versões em alemão e francês, e a tradução brasileira "Viagens so Nordeste do Brasil".

Da visita feita por ele em 1811 a Parnaíba registra o seguinte:

  • "Fui introduzido nas casas dos primeiros negociantes e plantadores. O coronel Simplício Dias de Parnaiba, onde possui magnífico solar, é rico e tem caráter independente. Consta entre os seus escravos uma banda de música, os quais fizeram aprendizado em Liaboa e no Rio de Janeiro. A homens como o coronel pode-se atribuir o progresso do país." (pg. 310).
  • LOUIS FRANCOIS DE TOLLENARE

Francês que percorreu o Brasil no triênio 1816/18. Escreveu suas obsevações em notas dominicais tomadas durante uma viagem a Portugal e ao Brasil, consevadas em manuscritos na biblioteca de Sainte Genevieve, em Paris. Esteve no Piauí em 1818 deixando o seguinte registro:

  • " A cerca de 150 ou 180 léguas a leste de São Luiz e sobre o continente, há uma pequena cidade de Parnaíba, perto da qual se cultiva o melhor algodão do país, muito superior a todas qualidades do Maranhão. Parnaíba recebe os produtos da interessante capitania do Piauí de que Oeiras é a capital. É em Parnaiba que se acha a excelente do Sr. Simplicio Dias da Silva, um dos mais opulentos particulares do Brasil. Caucula-se em 1.800 o número de seus escravos; organizou com eles um regimento e às vezes causou inquietações ao governo, que tentou perseguí-lo. O senhor Simplício viajou para a França e Inglaterra e ali aprendeu a conhecer o respeito devido a civilização: ocupa-se das artes, vive em luxo asíatico, mantém músicos com grande dispêndio, acolhe os estrangeiros, gosta dos franceses, vive nos dominios de um homem poderosamente rico mas não conspira. Influiria, sem dúvidas, muito em favor do partido ao qual se ligasse, se o seu partido recorresse à revolução." (pg. 162).
  • BIBLIOGRAFIA

Albuquerque Bastos, Claúdio - Manifestações Musicais do Piauí