- Escassos são os registros hoje existentes sobre a secular história da música brasileira em terras piauienses, assim como imprecisas são as poucas referências de que se dispõem sobre a evolução da arte musical em nossos primeiros tempos de colonização portuguesa.
A literatura sobre a história da música brasileira nos mostra que desde os tempos da colônia o som vibrante dos tambores afro-brasileiros ecoa por aqui, em terreiros de fazendas, pelas ruas das vilas ou nos adros de igrejas, com seu poder de arrancar os homens à dispersão forçada em que vivem.
Noticiados por cronistas e viajantes a partir do século XVI, as festas e rituais dos africanos são quase sempre objeto de descrições levianas e preconceituosas. Sons “monótonos”, danças “lascivas”, ritos “bárbaros” eram alguns dos qualificativos utilizados por estes escritores e moralistas, sem dúvida um tanto assustados com as multidões de negros que essas festas mobilizavam – multidões que sempre podiam rebelar-se contra a minoria branca.
- Paradoxalmente, a festa negra também constituía uma atraente opção de lazer para muitos brancos proprietários de escravos, como acontecia nas fazendas e engenhos isolados.
O mais antigo registro de que se tem a respeito da música na provincia do Piauí, é da primeira metade do século XVIII. Trata-se do registro de uma forma de repressão aos primeiros artistas populares que utilizavam se da música de origem africana como forma de expressão para entreterem-se em manifestações festivas.
- F. A. PEREIRA COSTA
F. A. Pereira Costa em seu trabalho "Cronologia" (pg. 108), editado em 1740, informa que em virtude de bando, ficava a população por ordem do então governador do Maranhão, João D'abreu Castelo Branco, que nenhum escravo, quer da Guiné, quer indígina, assim como crioulos, mamelucos, mulatos e cafusos, poderia conduzir armas proibidas, cacetes e violas, sob pena de três dias de prisão e cinquenta açoites diários.
Durante o século XIX o Piauí recebeu a visita de diferentes e ilustres viajantes estrangeiros que deixaram suas impressões sobra a terra e a gente piauiense nas obras que publicaram.
- HENRY KOSTER (Travels in Brazil, 1816)
Henry Koster, escritor de origem inglesa nascido em 1793 e falecido em 1820 em Recife-Pe. Veio para o Brasil em 1809 onde tornou-se senhor de engenho e ficou conhecido com o nome abrasileirado de Henrique Costa. Viajou pelo interior dos estados nordestino passando pelo Piauí e deixando sua passagem registrada no Livro "Travels in Brazil" publicado em 1816 na Inglaterra e mais tarde nos Estados Unidos e ainda com versões em alemão e francês, e a tradução brasileira "Viagens so Nordeste do Brasil".
Da visita feita por ele em 1811 a Parnaíba registra o seguinte:
- "Fui introduzido nas casas dos primeiros negociantes e plantadores. O coronel Simplício Dias de Parnaiba, onde possui magnífico solar, é rico e tem caráter independente. Consta entre os seus escravos uma banda de música, os quais fizeram aprendizado em Liaboa e no Rio de Janeiro. A homens como o coronel pode-se atribuir o progresso do país." (pg. 310).
- LOUIS FRANCOIS DE TOLLENARE
Francês que percorreu o Brasil no triênio 1816/18. Escreveu suas obsevações em notas dominicais tomadas durante uma viagem a Portugal e ao Brasil, consevadas em manuscritos na biblioteca de Sainte Genevieve, em Paris. Esteve no Piauí em 1818 deixando o seguinte registro:
- " A cerca de 150 ou 180 léguas a leste de São Luiz e sobre o continente, há uma pequena cidade de Parnaíba, perto da qual se cultiva o melhor algodão do país, muito superior a todas qualidades do Maranhão. Parnaíba recebe os produtos da interessante capitania do Piauí de que Oeiras é a capital. É em Parnaiba que se acha a excelente do Sr. Simplicio Dias da Silva, um dos mais opulentos particulares do Brasil. Caucula-se em 1.800 o número de seus escravos; organizou com eles um regimento e às vezes causou inquietações ao governo, que tentou perseguí-lo. O senhor Simplício viajou para a França e Inglaterra e ali aprendeu a conhecer o respeito devido a civilização: ocupa-se das artes, vive em luxo asíatico, mantém músicos com grande dispêndio, acolhe os estrangeiros, gosta dos franceses, vive nos dominios de um homem poderosamente rico mas não conspira. Influiria, sem dúvidas, muito em favor do partido ao qual se ligasse, se o seu partido recorresse à revolução." (pg. 162).
- BIBLIOGRAFIA
Albuquerque Bastos, Claúdio - Manifestações Musicais do Piauí
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