terça-feira, 31 de agosto de 2010

Aboio "O Canto do Sertanejo"


  • Mário de Andrade define o aboio como “um canto melancólico com que os sertanejos do Nordeste ajudam a marcha das boiadas. É antes uma vocalização oscilante entre as vogais A e Ô. A expressão de impulso final “Oh dá!” também muda para “Êh, boi!”. (M. Andrade, As Melodias do Boi, 1987, p. 54).

"Foi no sertão do Piauí / Lá na fazenda Xixá / Que o Boi valentão fez fama / Assombrado o povo do lugar. Ê boi Ôi..."

Mario de Andrade ao definir o conceito do verbo aboiar e do aboio, não se refere ao aboio como um canto de trabalho, mas o define num plano musical, ou seja, as manifestações desse canto sob a influência das emoções, com gritos interfectivos, ora servindo para acalmar os animais, ora servindo para chamá-los. Embora com significados semelhantes, ele distingue o verbo aboiar do aboio. O primeiro é destituído de palavras com simples vocalizações, como: “boi”, “êh boi”; e o outro é o canto constituído de estrofes e toadas livres.

  • O canto dos aboiadores é entoado numa linha melódica livre, conforme a fantasia ou a realidade do vaqueiro. É feito por interjeições que têm a função de disciplinar o gado no mesmo passo, na mesma cadência. Mas há também os aboios cantados em versos livres.

O aboio é um canto improvisado pelos vaqueiros. Quando estão no campo, sente-se que há uma conexão com a natureza e o gado. É um canto longo e melancólico, cuja tristeza emana da alma do vaqueiro, principalmente no cair da tarde, quando traz o gado de volta ao curral.

Exemplo de um aboio religioso:

  • Eu agora vivo feliz
    E preste bem atenção
    Eu falo do padroeiro
    Da minha vida mais não
    Tou falando da Igreja
    É de São Sebastião3
    Êh... ôi...

Lá tem um Livro Sagrado
A padroeira também
Chama Santa Terezinha
Muito a ela eu quero bem
Eu vou versar pra vocêi
Todo mundo me quer bem
Êh... ôi...

  • Na cidade de Curimataú
    Tem um Cruzeiro Sagrado
    Uma pedra eu vi ali
    Hoje tem nela gravado
    Que o São Sebastião
    Tem poder e tá confirmado reiiiii boi
    Ôi...

3 - São Sebastião é considerado o protetor contra a peste, a forme e a guerra.

  • No video abaixo um vaqueiro entoa um aboio autêntico com uma interpretação e timbre que lembra muito meu avô Lalau Estevam que era um famoso vaqueiro e aboiador do municipio de José de Freitas - Pi (região da Palmerinha), aproveito para dedicar este post em sua memoria.

  • Reconhecer o valor do nordestino é reconhecer nosso proprio valor, da nossa cultura, da simplicidade e da fé da nossa gente, vivo e amo ser nordestino. Pertenço a este povo que nos dá exemplo de força. AMOO o NORDESTE e com orgulho SOU NORDESTINO.

sábado, 7 de agosto de 2010

Campeonato Elege Melhores Bandas de Teresina


  • O texto deste post é uma materia que foi publicada em 19 de julho de 2008 no Blog Portal das Ruas do Site TERRA, com o titulo: "Campeonato Elege Melhores Bandas de Teresina", assinada pelo jornalista Iuri Rubim. Transcrevi-a na integra porque a mesma registra o momento auge de um trabalho de revitalização e valorização das bandas de músicas que há anos vinha sendo realizado na cidade de Teresina com total apoio da Prefeitura. Aproveito para colocar as fotos do evento que o texto se refere.

CAMPEONATO ELEGE MELHORES BANDAS DE TERESINA - Iuri Rubim

"Neste final de semana (19 e 20 de julho), 23 bandas de concerto do Piauí vão se enfrentar numa competição musical. É o I Campeonato Estadual de Bandas do Piauí. Em disputa, a oportunidade de competir com as melhores bandas do país no 15° Campeonato Nacional de Bandas e Fanfarras, que será realizado em Setembro, na cidade de Barra Mansa – RJ.

  • - As bandas musicais de concerto – explica um dos organizadores do concurso, maestro Rocha Sousa – eram antigamente as bandas de coreto, que desceram e se apresentam agora em qualquer lugar. Têm três famílias de instrumentos: os de madeira (flautas, clarinetes, saxofone); metais (trompetes, trombones, trompas, tubas e eufônios) e percussão (prato, tambor etc.). Têm entre 25 a 45 integrantes, a depender de sua formação.

A partir das 16h deste sábado, a Praça do Fripisa será tomada por cerca de 700 músicos. Ao longo desses dois dias, eles vão se exibir para um júri especializado que avalia critérios como afinação, postura, uniformidade, regência, peça, dentre muitos outros, nas categorias infanto-juvenil, juvenil e sênior. Cada banda tem 15 minutos para apresentar duas músicas.

  • - Aqui no Nordeste, tem muita disputa de compadre. Cada um diz que é melhor que o outro dentro em seus próprios parâmetros. Com um regulamento único, todos têm que se enquadrar – diz o maestro Rocha Sousa, um dos coordenadores do campeonato.

O maestro explica os benefícios da competição:

  • - A gente quer fazer um pouco como nas competições esportivas em que mesmo as escolas das favelas vão para as competições com os melhores uniformes. Com banda isso não acontece. Então, esperamos que o espírito de competição faça a mesma coisa que no esporte. A banda representa a escola, a comunidade e com certeza cada uma delas vai se esforçar para fazer isso da melhor forma - argumenta.

Presente como jurado no campeonato nacional em 2007, o maestro afirma que musicalmente, estamos mais ou menos entre os melhores colocados - entre o terceiro e o quinto lugares”. Mas insiste na tecla da apresentação: “Não conseguimos mudar a cabeça dos políticos, gestores em relação à apresentação das bandas. Nisso ainda ficamos muito para trás”.

Entretanto, a realização de um campeonato estadual, pela primeira vez provoca algumas mudanças de atitude. “Já mudou: teve banda que cobrou pedágio na rua, algumas escolas investiram em melhores uniformes. Desta vez vai ser diferente”, afirma Rocha Sousa.

Mas o campeonato também serve para promover o intercâmbio entre os músicos e aprimorar métodos e técnicas musicais. “Tem também esse espírito de congraçamento”, destaca o maestro.

  • Alheio às disputas, o público piauiense agradece. O campeonato é uma ótima oportunidade para assistir a um tipo de música pouco comum, mas de muita qualidade. “Aqui em Teresina, temos uma boa tradição de bandas”, diz o maestro Rocha Sousa. “Estamos no mesmo nível do Sudeste”.

20 ANOS DE EDUCAÇÃO MUSICAL

Dos grupos participantes, 21 são mantidos pela Prefeitura Municipal de Teresina, através da Fundação Cultural Monsenhor Chaves. A maioria faz parte do projeto Bandas-Escolas, que, em 2008, comemora 20 anos de permanente atividade como um dos mais importantes centros de formação de instrumentistas para a música do Piauí e região.

Foram mais de quatro mil alunos atendidos pelo projeto, cuja matrícula regular registra 750 alunos atualmente.

  • - A gente tinha uma tradição muito forte de bandas até os anos 60. Lembra do Chico? “para ver a banda passar”? Mas na década de 70 começou a cair no Brasil inteiro. Aí um prefeito da nossa cidade, em 1988, lançou um olhar nostálgico para resgatar essa tradição. Começou com 10 bandas-escolas – eu fui um dos primeiros integrantes. Aliás, são os primeiros alunos que hoje movimentam o projeto – lembra o maestro.

Ele explica que a iniciativa foi responsável pelo crescimento musical da cidade e a formação de um cenário musical paralelo.

  • - As pessoas de fora ficam abismadas quando conhecem a qualidade musical de Teresina. Poucas cidades fora do Sudeste têm clubes de choro. Nós temos um aqui, temos bailes tradicionais. Teresina tem três big-bands!

Rocha Sousa defende que, além de revelar talentos, o processo de formação musical é importante porque atinge diretamente uma faixa etária suscetível a várias formas de violência e cuja densidade populacional é muito alta em Teresina. “É uma bela forma de ocupar os jovens”, diz.

  • A prefeitura de Teresina vai dobrar o número de bandas do projeto em 2008. Neste momento, estão sendo licitados equipamentos para mais 20 bandas. “Estamos com o mesmo espírito de 20 anos atrás”, comemora o maestro Rocha Sousa."
Confira a materia na integra no portal Terra.

http://iurirubim.blog.terra.com.br/category/agenda/page/25/