domingo, 16 de agosto de 2009

O Arranjo Musical [2] MPB


  • A efervescente atmosfera musical vivida nos anos de 40 a 60, época áurea das grandes Orquestras populares brasileiras, está intimamente ligados ao Rádio como veiculo de comunicação e entretenimento de então, novidade marcante na sociedade brasileira, e posteriormente migrados para a Televisão, em particular às emissoras Tupi e Record.
Em homenagem à memória de uma época responsável pela criação de belissimas obras musicais e do surgimento grandes nomes em nossa música popular, como: Radamés Gnatalli, Léo Peracchi, Lindolpho Gaya, Lyrio Panicalli, Moacyr Santos, Ciro Pereira e tantos outros... Estaremos escrevendo sobre a história do arranjo musical na música popular brasileira, atribuindo a devida importância à tarefa do arranjador, que muitas vezes é considerada como atividade menor na prática musical, no entanto, assume um caráter de fundamental importância ao longo da história da música popular ocidental pela produção de obras representativas do repertório que nos foi legado, muitas vezes com linguagens muito próxima entre erudito e popular.

É fato sabido e marcante, a influência deste período na trajetória da maioria dos grandes músicos brasileiros das gerações mais recentes. Durante as décadas de 30 a 60, quase toda emissora possuía sua própria Orquestra, além de seu Cast de Músicos, Intérpretes e Arranjadores. A necessidade de uma programação variada quase que diariamente, aliada à transmissão ao vivo e ao grande número de excelentes cantoras e cantores, criava a obrigatoriedade de uma produção ao mesmo tempo rápida e qualitativa no que diz respeito ao quesito Arranjo.

Note-se ainda que, em função da grande diversidade de ritmos de então, destacava-se a capacidade na elaboração de roupagens de grande qualidade artística para os mais diversificados Gêneros Musicais e Formações Instrumentais, desde as grandes Orquestras até os Regionais de Chôro e Grupos Vocais.
  • A função do arranjo na música popular é aflorar as qualidades de uma obra musical de acordo com sua finalidade, revelando as vezes ao próprio autor, belezas invisíveis. Ao arranjador em sua tarefa de realização de um arranjo, cabe a escolha do instrumento ou grupo de instrumentos a serem utilizados como meio de expressão, planejamento formal para a concepção do arranjo, escolha de tonalidade adequada aos meios escolhidos, adequação do material harmônico enquanto linguagem a ser explorada, definição das funções desempenhadas por cada um dos instrumentos de acordo com suas características idiomáticas, além de todas as técnicas empregadas para a “composição” do arranjo, técnicas estas oriundas da atividade composicional.
O arranjo forneceu ao gênero popular (geralmente a canção), concebido como melodia acompanhada (ou por um único instrumento harmônico, como o violão, ou pelo grupo conhecido como —regional“, derivado das rodas de choro) uma densidade sonora que originalmente não existia. Dentro das principais etapas da evolução deste ramo de atividade musical no século passado na música popular brasileira... Destacaremos a seguir os principais nomes representantes da história desta arte em nossa música popular.
  • Anacleto de Medeiros - No Rio de Janeiro do início do século, destacava-se a Banda do Corpo de Bombeiros, uma das que mais gravou discos no início do século. O conjunto foi fundado e dirigido pelo maestro e compositor Anacleto de Medeiros, a quem se atribui a criação de uma linguagem orquestral popular no Brasil, ao fundir a linguagem das bandas à das rodas de choro.
Durante a fase da gravação mecânica, utilizavam-se preferencialmente instrumentos de metal e vozes impostadas, baseadas na técnica do bel-canto, que possuíam a amplitude (intensidade) necessária para mover a agulha gravadora e criar um sulco na cera prensada, registrando-lhe o espectro do som. Com o advento da gravação elétrica, em 1927, e o conseqüente aumento da sensibilidade do diafragma do microfone, amplia-se enormemente a gama de timbres que podiam ser gravados, incluindo as cordas, as vozes —pequenas“ e instrumentos percussivos que antes não eram captados com precisão. Os singelos regionais (grupos instrumentais compostos de violão, cavaquinho, percussão e um instrumento melódico œ flauta, clarinete, bandolim etc.) são, assim, substituídos por grandes orquestras.

1ª Geração de Arranjadores Brasileiros ( de 1935 a 1949)

Na segunda metade dos anos 30 com a expansão do radio no Brasil, desponta a 1º Geração de arranjadores para formações orquestrais mistas (seção rítmica, cordas e sopro), encabeçada por Radamés Gnattali, Pixinguinha e Gaó, completada mais tarde por Lyrio Panicali e Leo Peracchi, os quais viriam a introduzir, durante suas longas carreiras profundas modificações na construção de uma nova linguagem na música popular brasileira baseadas na seção rítmica norte americana e nas orquestras ligeiras dos anos 40. A formação Big Band começa a se dissiminar com formações dedicadas aos gêneros típicos como o samba e o frevo

  • Arranjos referências: 1939 - Arranjo de Radamés Gnattali para "Aquarela do Brasil" de Ary Barroso, na voz de Francisco Alves se destaca ao dar tratamento rítmico a instrumentos "melodico".
O surgimento e a expansão das rádios no Brasil, está intimamente ligado à construção de uma linguagem orquestral na música popular, sobretudo nos anos 40 e 50. Num momento em que praticamente todas as emissoras eram dotadas de orquestras próprias, para as quais eram escritos arranjos inéditos, os orquestradores desempenharam um papel importantíssimo na construção de uma —sonoridade brasileira.
Foi na Rádio Nacional que surgiram as primeiras experiências de arranjo de música brasileira para outras formações. Coube a Radamés Gnattali, um dos maestros da casa, o papel de fornecer uma outra roupagem aos cantores brasileiros além daquela do regional. Começou a fazer arranjos de pequenas peças como toadas e choros para pequenos conjuntos, trios, quartetos, os quais eram executados pelo próprio maestro ao piano, Iberê Gomes Grosso no violoncelo e Romeu Ghipsman no violino. Depois foi enriquecendo as formações até chegar à orquestra. Orlando Silva, o "cantor das multidões", foi um dos primeiros a contar com esse novo recurso.
  • Na década de 30, Radamés trabalhou na Rádio Clube do Brasil, na Rádio Mayrink Veiga, na Gazeta, na Cajuti e na Transmissora, na qual iniciou sua carreira como arranjador. Em 1935, Orlando Silva requisitou-lhe alguns arranjos de cordas para seu disco. O maestro aceitou e Orlando Silva acabou sendo o primeiro cantor brasileiro a gravar música brasileira com orquestra sinfônica, vendeu toneladas de discos. O acorde americano, como ficou conhecido o acorde de nona, agradou muito o público. Até então este tipo de acorde só era utilizado no jazz, porque os compositores de jazz ouviam Ravel e Debussy. Aqui ninguém nunca tinha ouvido esses acordes a não ser em música americana, e vieram as críticas. Mas o povo não se deixou levar e assimilou muito bem a novidade." (BRESSON. Bruno Cartier. Uma história que conta como os violinos chegaram aos arranjos do samba. O Estado de S. Paulo. 19.03.1979. p.26).
  • Ainda sobre Radamés Gnattli: Durante os trinta anos em que trabalhou na Rádio Nacional, Radamés foi um inovador; abriu espaços para novos maestros e arranjadores, valorizou a música instrumental e foi o responsável pela inclusão da orquestra na música popular brasileira. Introduziu no Brasil nos anos 30 a cifra norte-americana, por ser a cópia das partes de piano feita mais rapidamente uma vez que os trabalhos entregues pelos arranjadores tinham suas partes de orquestra copiadas e tocados no mesmo dia sem ensaio pela orquestra da Rádio Nacional. A experiência no rádio o levou para a Rede Globo de Televisão em 1968, onde trabalhou como maestro e arranjador durante 11 anos. Poucos arranjos considerados geniais na música brasileira não passaram pela mente versátil e pela caligrafia fina e precisa do maestro, arranjador e concertista Radamés Gnattali (1906-1988).

2ª Geração de Arranjadores Brasileiros ( de 1950 a 1968)

No inicio dos anos 50 surge a 2ª geração de arranjadores brasileiros. Nesse periodo acentua-se a influencia norte americana em nossa música. Os princiapais representantes deste periodo são: Lyndolgo Gaya, Moacir Santos, Tom Jobim, Luiz Arruda Paes, Cyro Pereira, Cipó e Rogerio Duprá.

  • Os arranjos inovadores de Tom Jobim para Elizete Cardoso e João Gilberto estabelecem padrões de referência para a moderna MPB, que então nascia pelas mãos da bossa nova; Rogerio Duprá renova a MPB ao fazer com tropicalistas trabalho similar ao que George Martin fez com os Beatles.

Arranjos referências: 1968 - arranjos de Rogerio Duprá para disco "Tropicalia" de Caetano Veloso.

3ª Geração de Arranjadores Brasileiros ( de 1969 a 1980)

No final dos anos 60 consolida-se a 3ª geração de arranjadores brasileiros composta por luis Eça, Eumir Deodato, Oscar Castro Neves, Dory Caymmi, Chiquinho de Moraes, Cesar Camargo Mariano, Wagner Tisso, etc.
A parti da década de 80, com o avanço da tecnologia de gravação, a evolução dos instrumentos musicais eletrônicos, o surgimento dos sintetizadores, as sucessivas crises de ordem financeira, as exigências de um “mercado cultural” voltado ao lucro imediato e fácil, a valorização dos pequenos grupos, dentre outros fatores... Praticamente inviabilizaram as grandes formações orquestrais da música popular nos estudios fazendo com que estas tivessem carater secundario e fossem desaparecendo quase que por total.
    • Hoje em dia, com o fácil acesso a computadores modernos e os baixos custos dos sintetizadores, surgiram os homes studios que fazem uma mudança radical no sistema de gravação e nos custos das produções musicais modificando totalmente a sonoridade e o conceito de arranjo nos dias atuais.

4 comentários:

  1. Bacana, mas esta faltando o Maestro Antonio Arruda-Cangaceiro, responsavel pelos arranjos:
    Disparada
    Pra não dizes que não falei das flores
    São são paulo
    Arranjador dos programas:
    Bolinha, Flávio Cavalcanti, Chacrinha, Imagens do Japão entre outros.
    Arranjador do Simonetti, Banda Reveillon, e diversas Orquestras Populares do Brasil.
    Com certeza ele tambem é um dos grandes.
    Vamos enriqueçer a nossa tão esquecida memoria musical brasileira

    ResponderExcluir
  2. Arranjador - figura de excepcional importância musical e que nem sempre é destacada como merece. No Brasil, infelizmente não temos pesquisas ou catalogações publicada que relacione estes mestres e suas obras.

    Quantos, de Anacleto de Medeiros a Naylor Proveta ainda precisam serem resgatados?

    Tentei de forma didática abordar o tema levando em conta as diversas fases da mpb, procurando destacar os nomes que tiveram mais visibilidade em cada fase, segundo minha analise. Claro que não está completo e nem é nossa intenção esgotar.

    Fica a nossa contribuição para o resgate da memória destes mestres ricos em criatividade, técnica e espontaneidade que são inclusive responsáveis pela valorização da nossa música popular no mundo. (Maestro Rocha Sousa)

    ResponderExcluir
  3. Maestro Carioca

    Ivan Paulo da Silva, conhecido como Maestro Carioca, era paulista, e nasceu em 1910, na cidade de Taubaté, no interior de São Paulo. Ele começou a carreira em 1938, atuando como trombonista da orquestra de Fon-Fon. Em 1943, começou a trabalhar na Rádio Nacional com sua orquestra, indo depois para a Rádio Tupi. Em 1944, ele escreveu o prefixo para o Repórter Esso, gravado por ele mesmo no trombone, Luciano Perrone na bateria, e Francisco Sergi e Marino Pissiani nos pistons. Ele trabalhou durante anos como integrante da Orquestra da Rádio Nacional. Carioca fez dezenas de gravações e arranjos para canções de gêneros nacionais e estrangeiros. Em 1958, foi contratado pelo selo Rádio, pelo qual gravou 5 LPs nesse mesmo ano, incluindo esse da postagem de hoje. O disco tem os clássicos dos clássicos do repertório chorístico, com bons arranjos para orquestra, demonstrando porque o Maestro Carioca não ficava sem trabalho. Fora tudo isso, o Maestro Carioca participou da elaboração das famosas calçadas musicais de Vila Isabel: a ele coube a simplificação das partituras. Carioca faleceu no Rio de Janeiro, em 1991.

    ResponderExcluir
  4. Olá, grato por mencionar meu pai, o Maestro Antonio Arruda de Souza.
    Abaixo o link da Orq Arruda Brasil q te, a biografia do Maestro.
    Creio q pode ajudar a maior precisão em alguns dados.
    Grato pela atenção.
    www.arrudabrasil.blogspot.com

    ResponderExcluir