quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A Música do Piauí - Anos 60 - por Geraldo Brito

Radio Difusoura (Teresina 18-07-1948)
  • A revista Cadernos de Teresina, uma publicação da Prefeitura Municipal de Teresina através da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, tem possibilitado aos pesquisadores locais, um espaço para publicação de suas pesquisas através de artigos. É o caso do músico pesquisador Geraldo Brito que publicou um artigo intitulado "A Música do Piauí - Anos 60". Neste trabalho Geraldo faz um recorte histórico do movimento da musica popular urbana na cidade de Teresina nos anos 60.
"Inicio dos anos sessenta na Distanteresina, como diria o poeta Torquato Neto. Uma cidade até então calma, com uma ou duas avenidas e poucos automóveis. Mesmo assim, no aspecto musical, poderíamos observar programas de calouros e, vez por outra, a presença de uma astro ou estrela de renome nacional, sempre acompanhados pelo Regional Q3, conjunto pertencente ao quadro de funcionários da Rádio Difusora de Teresina, a pioneira no campo radiofônico da capital, uma vez que a primeira emissora de rádio do Piauí foi a Rádio Educadora de Parnaíba.
Como toda emissora que se prezasse, naquela época a Difusora possuía seu conjunto regional. Entende-se por conjunto regional: o agrupamento instrumental de música popular composto por dois violões, cavaquinho, bandolim, pandeiro, flauta, que surgiu na segunda metade do século XIX, através do flautista carioca Joaquim Antonio Callado, e que foi desenvolvido por outros compositores, entre os quais Anacleto de Medeiros.
Com a aparição do disco elétrico em 1927, e principalmente do rádio em 1935, começaram a surgir os grupos de acompanhamento para os ídolos de massa do Brasil – os cantores. Voltando ao nosso convívio, o regional da Difusora era composto por: Antonio Simplício (acordeon), Carlos Guedes (cavaquinho), Panfílio Abreu (violão), José Maria Doudment (violão de 7 cordas), Bruno do Carmo (bandolim/violão). Outros músicos como: José do Baião (sanfona) e Chico Sanfoneiro tiveram participações neste regional, que acompanhava cantores piauienses, como por exemplo: Totó Barbosa, João de Deus, Delmir Chaves, Clemílton Silva, Dagmar Pereira, Telva Neide, Francisco Guimarães, Damasceno, Helena Núbia, Walcir Moreira e eventualmente José Eduardo pereira e José Lopes dos Santos (flauta), que compunham a diretoria da emissora.
  • No decorrer dos anos cinqüenta e sessenta, o Regional Q3 acompanhou também estrelas de renome nacional, como: Ângela Maria, Carlos Galhardo, Núbia Lafayette, Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto, Sivuca, dentre outros artistas internacionais como: Juanito Venâncio, Bievenido Granda e Roberto Lazama.
Era tempo da Voz de Ouro ABC, uma espécie de festival a nível nacional que selecionava os melhores cantores de cada Estado, havendo depois uma finalíssima para a escolha do melhor cantor brasileiro. Tivemos participação nesse concurso de alguns intérpretes como Dalmier Chaves. Em 1960, surgiu a Rádio Clube de Teresina, que não tinha um elenco de músicos definido, como a Rádio Difusora, mas que eventualmente apresentava os seus programas com calouros, como analisa o músico Edilson Freire, que na época participava dos regionais e atualmente é tecladista no esquema da noite.
Em 1962 surge outra emissora de rádio. Desta vez a Rádio Pioneira de Teresina, fundada pela arquidiocese e que contribuiu bastante no âmbito musical, contando em suas instalações com um auditório para apresentações de programas de calouros e shows com astros nacionais. A nova emissora foi inaugurada com o seu conjunto regional composto por: Edilson Freire (sanfona), Ludimar (violão), João dos Santos (pandeiro), Chico Rosa (bateria), Carlos Guedes (cavaquinho) e Sansão (saxofone). Esse regional acompanhava também artistas como: Núbia Lafayette, Orlando Dias, Carlos Alberto, Alcides Gerardi e Vanderléia (em início de carreira).
Entre os anos sessenta e sessenta e três, um trio quebrava a monotonia da cidade e mandava ver uns bolerões bem conhecidos da época. Era o Trio Yucatan, composto por: Walter Sampaio, Silzinho e Mundicão. O nome do trio era uma homenagem à cidade de Yucatan, localizada no México, e foi sugerido por Miriam Lopes. Os rapazes logo conquistaram a cidade e eram os preferidos em festinhas de residências, de colégios e em gravações em jingles na Rádio Pioneira. Segundo Silzinho, Almeida Filho era quem empresariava o trio.
Aos poucos, a cidade foi se tornando pequenas para os interesses do trio. Em 1963 eles partem com destino a Brasília e São Paulo, chegando a gravar seis compactos e fazendo muitas apresentações em programas de TV, como no de Alfredo Borba na TV Excelsior. O trio foi desfeito em 1968, quando Walter seguiu rumo ao México, Mundicão fica em Brasília e Silzinho retorna a Teresina.
Em 1963, período de sucesso do Trio Yucatan, houve um recheamento de canções genuinamente piauienses como as de Levi Moura, irmão de Mundicão. Integrante do trio. É de autoria de Levi Moura a bonita canção “Você não Meditou”, interpretada por Rosinha Lobo nos anos 70 e que nos anos 80 foi gravada pelo piauiense Cabral Rios. Levi Moura foi morar no Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1991, quando faleceu.
OS MILIONARIOS
O ano de 1963 rendeu outro fruto musical, como o conjunto Os Milionários. Neste ano, a Polícia Militar do Piauí, que outrora tivera em seu quadro uma Jazz Band animando as tradicionais tertúlias do famoso Clube dos Diários, na pessoa do seu comandante coronel Torres de Melo, pede ao professor Luis Santos (pertencente ao quadro da Polícia) que crie um conjunto musical no sentido de realizar um elo entre o público interno e externo.
O professor Luis Santos imediatamente agilizou a formação do conjunto que recebeu o nome de Os Milionários, numa justa homenagem ao compositor José Bispo. Os Milionários se tornou popular e o comandante, de tão grande entusiasmo, mandou trazer diretamente de Fortaleza a gravadora Orgacine, que, ao chegar, instalou-se nos estúdios da Rádio Pioneira.
A gravação do LP teve prensagem na RCA Victor de São Paulo. Dentre as canções que compunham o LP estavam: “Baião da Saudade” e “Simplício e seu Clarinete”, (de Luis Santos); “Milionário” (José Bispo); “Linda” (Bruno do Carmo) e “Olha a Bossa” (Simplício). Esse histórico LP foi gravado em 1965 e Os Milionários era composto por: Simplício Cunha (saxofone e clarinete), Edilson Setúbal (piano solovox), Artur Pedreira (bateria), Lourival Marques (baixo), Bruno do Carmo (guitarra), Gabriel Oliveira (percussão) e João de Deus (cantor). Segundo as informações do professor Luis Santos, o conjunto atuou de 1963 a 1970.
  • Em 1964 um novo cantor conquista a cidade verde. Era Herbert Arcoverde, muito talentoso e de voz agradável de se ouvir. Ele animava os programas de calouros e participava do elenco da Prata da Casa que se apresentava antes de shows de alguns astros renomados. Nessa época, as rádios apresentavam programas em que os locutores perguntavam ao público se preferiam ouvir determinada canção ao vivo ou em gravação. Na voz de Herbert, se situava a preferência dos ouvintes.
De 1964 para 1965, surge outro trio para alegrar os teresinenses. Era o Trio Guarany, formado por Bimba (violão e voz), Chico (voz) e Jesus (voz). O Trio Guarany animava as festas, participava de programas e tinha uma atuação quase que constante nos realizados pela Rádio Clube.
Em 1965, chega a Teresina o baterista Barbosa (famoso por fazer verdadeiras acrobacias com as baquetas) e com ele o também famoso conjunto Barbosa Show Bossa, incendiando o salão do Clube dos Diários. Tinha a seguinte formação: Colombo (guitarra), Orion (sax), Estelita Nogueira (cantora), Ivan Bandeira (vibrafone), Zé (baixo) e o próprio Barbosa (bateria). O acordeonista Antonio Simplício também integrou o B.S.B.
SAMBRASA
No início de 1967, após alguns conflitos que normalmente ocorrem em grupos musicais, o B.S.B foi desfeito e para preencher o enorme vazio deixado por eles surgiu imediatamente outro conjunto chamado Sambrasa, composto por alguns músicos do extinto Barbosa e acrescido de outros que estavam vindo do Ceará.
A primeira formação do Sambrasa foi com: Edmilson Morais (bateria), Zezinho Ferreira (baixo). Colombo (guitarra), Antonio Simplício (acordeon), Linhares (sax), Bossa (piston) e Vicente (cantor). O sucesso do Sambrasa foi o mesmo, culminando na gravação de um LP nos estúdios da Orgacine, em Fortaleza.
O disco contou com a produção do empresário Aerton Cândido Fernandes, que também participava do LP com a composição “Turma do C2H60, título de um dos blocos famosos do carnaval teresinense dos anos 60. O LP do Sambrasa foi muito bem recebido pelo público local. As rádios executavam, a toda hora, diversas faixas do disco.
Na época desta gravação, o conjunto já não mais contava com a presença do músico Antonio Simplício. Em meados de 1967, a cidade tornava-se ainda mais quente com a aparição de um conjunto tipicamente da jovem guarda.
  • Lena Rios, (cantora) que viveu este momento artistico da nossa cultura, nos dar seu depoimento através do Programa "Recontar" da Tv Assembleia - Pi.

OS BRASINHAS
Surgia Os Brasinhas, provocando uma tremenda reviravolta por parte do público feminino. Os Brasinhas era constituído por jovens cabeludos, como mandava o figurino, e todos genuinamente piauienses. Compunha o conjunto, em sua primeira formação, os músicos: Ernesto (bateria), Chico (guitarra solo), Paulo Vasconcelos (guitarra base), Sidney (vocal) e Getúlio (baixo).
Alguns meses depois, Os Brasinhas ganha a valiosa participação do guitarrista Assis Davis, um dos melhores músicos piauienses no que se refere à época da Jovem Guarda. Com a chegada de Assis, alguns meses depois, saem do conjunto Chico Vasconcelos e Ernesto, indo para a bateria o vocalista Sidney. Com esta formação Os Brasinhas conquistou, em pouquíssimo tempo, o público teresinense e de algumas cidades do interior por onde passava.
O conjunto ainda contou com a participação do saxofonista Pantico, que permaneceu por vários anos. Paralelamente, surgiu Os Metralhas, resultante da saída de Ernesto e Chico Vasconcelos dos Brasinhas. Juntaram-se á Rubito (baixo), Mário Lúcio (guitarra base), Paulo Chaves (cantor). A estréia aconteceu em frente ao prédio onde funcionava a loja Útil-Lar. Neste dia, Fernando Chaves tocou guitarra solo, em lugar de Chico Vasconcelos. Após Os Brasinhas e Os Metralhas, foram surgindo, pouco a pouco, outros conjuntos como Os Lords, Os Tangarás, The Dandies, Os Fantasmas, The Sammers, Zé e Seus Quatros Azes.
  • Video-reportagem (programa Interferência da Tv Antares) sobre a música dos anos 60/70 com os integrantes da banda "Os Brasinhas".

O POETA TORTO
Em 1967 mais um outro piauiense ganha destaque no cenário musical do país. Era Torquato Neto, um dos artífices do movimento Tropicália, juntamente com Caetano Veloso e Gilberto Gil. Torquato Neto ainda hoje é destaque em jornais, como a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e em especiais de TV, como o que foi mostrado pela TV Manchete, em 1992, com a direção do cineasta Ivan Cardoso.
  • Seção da Câmara Municipal de São Paulo realizada no ano de 2007 em Homenagem ao Poeta Compositor Torquato Neto.

Walcyr Moreira, B. Assis e César Bianchi eram os nossos compositores do carnaval. Eles gravavam suas composições em fita de rolo e divulgavam através das emissoras de rádio. As músicas eram bastante executadas e todos ligavam pedindo para ouvi-las.
Em 1969 existiu também em Teresina o conjunto Golden Girls, formado exclusivamente por mulheres. Este conjunto teve vida curta, embora tenha conseguido se apresentar em vários locais, como no auditório da Rádio Clube, onde futuramente seria instalado o da TV Clube. Neste mesmo ano surgiu na capital o cantor mirim Jurandir Vieira, causando uma grande sensação nos programas de auditório.

5 comentários:

  1. Muito legal esses registros. Parabéns pelo texto

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  2. GOSTEI MUITO,A MÚSICA PIAUIENSE, PRECISA DE MAIS PROJEÇÃO POPULAR.

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  3. Ilustre Geraldo,

    Interessante o seu artigo sobre a música no Piauí. No entanto, observo que o título deveria ser "A música em Teresina", posto que você restringe tudo o que ocorreu em termos de Jovem Guarda nesse Estado à capital, quando, de fato, sabemos que não foi assim. Não tome isso por censura, apenas tenho o intuito de lembrá-lo de algo que não pode deixar de ser mencionado.

    Você olvidou dois dos mais importantes conjuntos de Jovem Guarda que existiram em Parnaíba, entre 1964, 1965, 1966, 1967 e 1968.

    O primeiro deles, formado por alunas do Colégio N. S. das Graças - o Colégio das Irmãs -, composto apenas por mulheres - 4 - e um único homem, garoto, na verdade, mas baterista. que se apresentou por algum tempo na cidade.

    Esse conjunto era composto por Valéria Carvalho, guitarra-solo e vocalista; Naitinha, à Scaleta; Teresinha Aragão, pandeiro sem couro; e Benilce, ao contrabaixo, além de mm, Paulo Basto, na bateria. O conjunto ficou bastante conhecido na cidade, embora, paralelamente, houvesse outro - Os Bárbaros -, que tocavam com instrumentos do Sesc local.

    Apesar do Conjunto do Colégio das Irmãs ser bem conhecido, infelizmente - e lamentavelmente - foi quase maioria a decisão das meninas de parar, e eu, como baterista, não tive outra alternativa senão de aceitar o fim de algo que não deveria ter ocorrido, pelo menos àquele momento.

    Entretanto, em razão do conjunto haver sido visto, numa das apresentações que fez na AABB da Praça da Graça, pelos integrantes e pelo Responsável pelos Bárbaros, logo em seguida ao fim do conjunto do Colégio das Irmãs recebi, através do Celso Marques, contrabaixista, o convite para passar a integrar Os Bárbaros, o que para mim foi algo único, e inesquecível.

    Os Bárbaros, que eram compostos por Alcione (in memorian), guitarra-solo e vocal; Wéber Mualem (guitarra-base e vocal); Celso Marques, contrabaixo; e Evandro Mourão - o "Catolé" - na bateria. Com a saída deste, passei a ocupar seu lugar e a ensaiarmos na Sede Esportiva do Sesc, à Beira-Rio, até que veio a inauguração.

    A partir daí, o conjunto foi convidado para tocar regularmente, aos finais-de-semana, ora no Igara Club, situado à beira-rio, ora na AABB da Praça da Graça, o que o solidificou como o real representante da Jovem Guarda em Parnaíba, já que o movimento havia chegado ao seu auge, em 1966.

    E assim continuamos, até 24.Fev.1968, quando Os Bárbaros se apresentaram pela última vez, ao ficarem a cargo do Baile das Debutantes de Parnaíba.

    Por motivos outros, o Alcione foi para Fortaleza, o Celso Marques para Belém e eu, Paulo Basto, vim para Brasília, onde resido desde então.

    Dessa forma vivi, de forma única, ímpar, singular, a melhor e mais áurea fase da minha vida - passada, presente e sem a menor dúvida futura -, por ter feito parte de um conjunto de Jovem Guarda, em época igualmente singular... e mesmo que tenhamos nos afastado, o sonho de voltarmos a nos reunir para numa daquelas imemoráveis Tertúlias repetirmos, com repertório daqueles anos áureos, o que foi, durante muito tempo, um bálsamo para todos os que viveram, em Parnaíba, a mais singular época que a cidade presenciou: a Jovem Guarda...

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  4. Gostaria por gentileza de saber se a TV Pioneira possui registros de uma cantora por nome Antônia Sousa da Costa, em meados da década de 60. Ela é minha mãe, atualmente com 74 anos de idade, ela nos relata que era convidada para cantar na banda do BEC e também para a rádio pioneira, onde teve uma oportunidade de cantar junto com o Waldick Soriano, e foi convidada pelo mesmo para ir ao Rio de Janeiro. Ela chegou a ganhar muitos prêmios nas apresentações de show de calouros.

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  5. Quero parabenizar o blog pelo belo trabalho de resgate a memória musical e artística do nosso Piauí.

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