Embora existam marchas para piano, acordeon ou violão, o estilo se desenvolveu, ampliou-se e se diversificou no seio das bandas de músicas militares e posteriormente nas bandas civis. Acreditamos que isto se deu em função da necessidade e adaptação do potencial acústico dos vários tipos de instrumentos de sopro e percussão que compõem as bandas ao caráter e finalidade das marchas para o desfile das tropas. Esta fusão da música marcial com as bandas de música no mundo tornou-se um só corpo indissolúvel e ao fundir-se com as culturas locais chegou a derivar-se em outros estilos variantes, como no caso do Brasil, na marcha de procissão, marcha de carnaval, no frevo e suas variações, entre outros.
As marchas militares mais antigas que se tem registro são as de Jean Baptista Lully para as bandas de Luis XIV. A partir da Revolução Francesa, Cherubini, Hummel, Beethoven e outros compositores escreveram marchas para regimentos e exércitos. Atualmente, a maior parte das marchas foram escritas entre 1880 e 1914.
A marcha militar foi introduzida na música de concerto através das óperas e balé de Lully; sendo seguido por outros compositores. São freqüentes as marchas nas óperas de Haendel, Mozart, Verdi e Wagner. Dentro das marchas escritas para teclado, destacamos as escritas por Schubert, Schumann e Chopin.
Além da finalidade militar, as marchas podem apresentar características muito diferentes, segundo a finalidade para qual foi composta.
- Marcha Fúnebre, com andar lento - Destacamos a marcha da Sonata para piano nº12.op.26 e da 3ª Sinfonia, ambas de Beethoven; também destacamos a célebre marcha de da 1ª Sonata para piano de Chopin.
- Marcha Nupcial, com andar solene - Destacamos a Marcha Nupcial de "Sonho de uma noite de Verão" de Mendelssohn.
- Marcha Religiosa para acompanhamento de procissão.
- Marcha Triunfal para execução em concerto com muito brilhantismo - Como exemplo mais conhecido destacamos a marcha triunfal da ópera "Aida" de Verdi.
- Marcha para Dançar geralmente em andamentos rápidos, alegre e festivas, estas marchas, como gêneros da música popular, existem em diversas nacionalidade exclusivamente para comemorações de festividades. A exemplo temos a Tarantela na Itália, Na Alemanha temos às marchas tipicas de dança folclóricas e no Brasil a Marcha de Carnaval e suas derivações.
· Marcha Militar
Com andar brilhante para desfile. A marcha militar se baseia num ritmo com marcação repetida e regular acompanhado de tambores e bombos marcados nos tempos fracos de cada compasso com intensidade e vibração e sendo abafando nos tempos fortes, enquanto a caixa de guerra mantém o preenchimento do acompanhamento rítmico dos compassos; temos também os pratos marcando a cadencia rítmica em todos os tempos.
Sobre a Marcha Militar, José Roberto Franco da Rocha em Artigo intitulado: "Dobrado: Breve Estudo de um Gênero Musical Brasileiro", assim afirma sobre às marchas militares:
"Sabemos
que, desde tempos imemoriais, pela própria natureza das suas
missões, as tropas militares marcharam a pé ou a cavalo. Hoje, se utilizam dos
mais modernos meios de transporte e locomoção, mas, historicamente,nos
deslocamento pedestres ou hipomóveis, a cadência da marcha sempre variou em função
da situação tática. Sabemos, também, que é da mais antiga tradição militar que
a cadência dessas marchas fosse marcada por bombos e tambores,acompanhados de
pífanos, flautins, trombetas e de outros instrumentos musicais. Por evidente
analogia, a marcha, ou seja, o deslocar-se a pé ou montado, com o passar do
tempo, passou a ser sinônimo da música produzida pelo grupo que marcava a cadência,
durante esses deslocamentos. Disso resultou que, hoje, marcha é a música e
marcha é o deslocamento, de tal sorte que fica mais clara a frase: “A tropa
marcha ao som da marcha”.
As
diversas situações táticas exigem, basicamente, três cadências para os
deslocamentos da infantaria: o passo de estrada, que é uma marcha
lenta e pesada, usual nos longos percursos; o passo de parada ou passo ordinário,
que é uma marcha bem mais rápida, com andamento próximo ao dobro do anterior,
utilizada em desfiles, continências e paradas militares; e o passo
acelerado,marcha de ataque para a tomada de pontos do terreno ou na carga sobre
as linhas inimigas.
Nas
tropas de cavalaria, essas cadências correspondiam, aproximadamente, às
andaduras ao passo, ao trote e ao galope, enquanto que, para as bandas de
música, as cadências desses passos foram se uniformizando bem pertodos
seguintes velocidades do metrônomo: 1) o passo de estrada: uma marcha lenta,com
marcação entre 68 e 76 tempos por minuto; 2) o passo dobrado: uma marcha rápida,
com o metrônomo marcando de 112 a 124 tempos por minuto; e 3) o passo acelerado
ou galope, com marcações em torno de 160 tempos por minuto.
Não
tardou, porém, para que “passo dobrado”, que designava o andamento das marchas
rápidas, passasse a designar, também, a própria marcha ordinária das paradas,
continências e desfiles. O Dicionário Aurélio registra, no verbete passo, o
significado para passo ordinário: “andadura cadenciada, usada em deslocamento
militar, na qual se mantém velocidade que corresponda ao passo normal do
pedestre”. Para dobrado encontramos: “música de marcha militar”.
Passo
dobrado corresponde, literal e musicalmente, ao passo doppio dos italianos, ao
paso doble dos espanhóis, ao pas-redoublé dos franceses ou simplesmente à march
de ingleses e alemães.
A
cadência, a divisão rítmica e outras características das marchas militares,
principalmente, as da marcha rápida, foram, no entanto, recebendo
forte influência do caráter nacional, fazendo com que se cristalizassem muitas
diferenças entre elas, segundo a suas nacionalidades.
Os
ingleses, por exemplo, possuem uma marcha rápida, a quickmarch,
em compasso 6/8 e andamento bem semelhante ao das marchas latinas, porém sua
marcha mais tradicional, pesada e arrastada, tem andamento de 108 passos por
minuto. A marcha nacional britânica tem, portanto, características distintas
das marchas latinas, bem mais rápidas. Distintas, mais ainda, das lépidas marchas
americanas, que, a partir da grande popularidade obtida por John Philip Sousa
(1856-1932), se fixaram no andamento de 120 passos por minuto.
Grande
parte dessa diversidade deve ser atribuída à distribuição dos valores rítmicos
imposta pelo compositor à partitura e, também, aos valores
rítmicos existentes dentro dos seus compassos. No entanto, avulta sempre a importância
de um sentido rítmico inconsciente, condicionado pelo caráter nacional ou por
reflexos emocionais dos fatos, épocas e circunstâncias vividos pela comunidade
nacional. Não se pode, também, negligenciar a influência decompositores e
regentes que, em determinado momento, captaram esse sentido rítmico
subjetivo e conseguiram traduzi-lo para modelos duradouros das marchas nacionais.
Nessa matéria, merecem destaque Giacomo Meyerbeer (1791-1864), na Alemanha;
Giovanni Battista Lully (1632-1687) e François Joseph Gossec (17341829), na
França; e bem assim o já citado Philip Sousa, nos Estados Unidos da América do
Norte.
No Brasil
não foi diferente, mas, embora tenhamos extraordinários compositores do gênero,
não podemos apontar nenhum que, em particular,
tenha sido responsável direto pela criação de um modelo nacional de marcha
rápida. Podemos, no entanto, verificar que, sendo executada em toda a vastidão
do território nacional, a marcha, ou seja, o “passo dobrado” europeu, no transcorrer
do século , ficou completamente exposto às influências dos vários outros gêneros
musicais, que, por sua vez, já haviam sido inoculados pelas diversidades musical,
étnica e cultural das crescentes populações urbanas. Resultou, daí, a gradativa
consolidação de uma marcha brasileira, que, sob a denominação genérica de
dobrado, foi adquirindo e sedimentando características muito peculiares. E, na medida em
que foi se distanciando dos modelos herdados do passo dobrado e das marchas
européias, o dobrado foi se consolidando como a marcha nacional brasileira por
excelência, de tal sorte que, a partir do último quartel dos anos 1800, o nosso
dobrado já possuía características melódicas, harmônicas, formais e contrapontísticas
que o distinguiam de outros gêneros musicais, permitindo assim a sua
inclusão no rol dos gêneros musicais genuinamente brasileiros."
Estrutura, Estética, Forma Musical e Caracterização do Dobrado
A marcha militar se estrutura em compasso binário ou quaternário, ainda que é mais comum em compasso binário, com forma de minueto e que pode existir isoladamente ou fazer parte de uma Sonata, Sinfonia, Ópera ou outras formas. A marcha militar tem os tempos fortes acentuados, e com um mesmo andamento marcial, se destina, tanto ao desfile cívico-militar como ao concerto em recintos fechados ou em espaços públicos com acústica aberta.
Apesar de um conjunto de características comuns que diferenciam a marcha cívica brasileira das marchas de outras nacionalidades não podemos afirmar que existe uma definição absoluta quanto a sua forma. Podemos afirmar que levando se em conta a maioria das características comuns geralmente inicia-se com uma introdução forte e curta onde pode-se perceber em sua constituição a marcialidade, a cadência firme e o brilhantismo melódico, partindo para uma primeira parte, com repetição, onde é exposta a melodia principal em dialogo com os contracantos. A parte seguinte é o forte, onde solam os graves e onde é encontrada a massa sonora do dobrado. Volta-se à primeira parte e, após breve ponte, chega-se ao trio. O Trio é a parte do dobrado onde o compositor envolve os aspectos harmônicos, rítmicos e melodiosos para expressar traços que caracterizam a personalidade do homenageado e dar um caráter mais humanístico à música. Um dos fatores que contribui para a não existência de uma forma musical definida do nosso dobrado, acredito que tenha sido o isolamento que durante muito tempo, até a primeira metade do séc. XIX, as bandas das cidades interioranas foram submetidas devido às dificuldades de comunicação e locomoção da época. O contato existente entre os grupos era possibilitado pelos músicos que viajavam para as cidades que tinham bandas trocando informações e partituras. Tais intercâmbios possibilitaram a aproximação de uma forma musical comum, mas não sua unificação. As partituras que chegavam com os músicos andarilhos durante muito tempo foram o único meio de integração entre as bandas e a única fonte de referencia para estudo e analise entre os compositores das diversas bandas interioranas. Da forma musical do dobrado de desfile surgiu o dobrado sinfônico que é uma variação do gênero utilizado apenas para concerto. O Maestro e Musicologo Fred Dantas afirma em artigo que: “No Brasil o dobrado, se tornou em certos momentos música de concerto, desapegada da finalidade de utilização para deslocamento militar” chegando a popularizar-se graças a predileção dos mestres de bandas por este tipo de música no repertório de seus grupos para as apresentações nas tradicionais retretas e desfiles que as bandas de música sempre realizavam e ainda hoje realizam nas milhares de cidades brasileiras não deixando de fora do repertório os dobrados compostos por compositores locais."
Marcha de Passo Dobrado ou “Dobrado”
Os dobrados são marchas militares especificas feitas com a finalidade de acompanhar deslocamentos de tropas em desfile. Os titulos destas marchas geralmente são para homenagear pessoas, datas ou lugares.
O "dobrado", como estilo de composição com as características que tem hoje, evoluiu da marcha militar tradicional, a fim de atender um maior percurso de deslocamento das tropas sem que tivesse que reiniciar a mesma marcha em um pequeno espaço percorrido. Procurando atender esta necessidade a forma da marcha militar foi alterada com uma dobra no numero de compassos de 16 para 32 compassos dentro de cada parte que compõem a forma tradicional deste tipo de composição.
Alguns dos Principais Dobrados Brasileiros
A quantidade de compositores nas bandas de música no brasil é imensa, e em cada banda existente no território nacional sempre encontramos compositores com obras deste gênero musical.
Dobrado Batista de Melo - Manoel Alves
Dobrado Cisne Branco - Antonino Manoel do Espirito Santo
Dobrado Quatro Dias de Viagem - Antonino Manoel do Espirito Santo
Dobrado Barão do Rio Branco - Francisco Braga
Dobrado Janjão - Joaquim Naegeles
Dobrado Verde e Branco - Estevam Moura
Alguns Dobrados Compostos em Terras Piauienses
Uma boa quantidade de compositores no Estado do Piauí também tem escrito suas obras nesse gênero.
Dobrado Benedito Manoel da Luz - Sebastião Simplicio
Dobrado Cmt Dário Coêlho - Sebastião Simplicio
Dobrado 13 de Março - Simplicio Cunha
Dobrado Cmt Edvaldo - Rocha Sousa
Dobrado Tenente Elizeu - Francisco Angelo da Silva
Dobrado Tenente Paz - Francisco Angelo da Silva
Referencias Bibliográficas
Rocha Sousa, A. Carlos: Artigo - "Estética e Evolução da Marcha Cívica Brasileira", 2009
Franco da Rocha, José Roberto: Artigo - "Dobrado: Breve Estudo de um Gênero Musical Brasileiro", 2012
Tinhorão, José Ramos: Livro - ”Historia Social da Música Brasileira, Ed.
Caminhos da Música Popular”
Dantas, Fred: Livro - "Teoria e Leitura da Música para Filarmônicas", 2000